domingo, 31 de julho de 2011

Céu-Mar


Feeling the blues
Na brisa azul
Delicadeza azul
Num balanço envolvente
Feeling blue.

Na voz suave
No toque da pele
No vento azul
Feeling blue?

Na melodia das notas
simples notas.
Paz de espírito
Brisa da respiração
Do corpo que chora o vento azul
Feeling the blues.

domingo, 24 de julho de 2011

arianamente irrepreensível.


desde muito criança aprendi que fantasiar deixa um gosto de frustração na boca e um cheiro de vontade abafada na pele. quer dizer, aprendi?

fato é que o tempo passa, o corpo dá seus sinais de desgaste e você continua ali, fantasiando. por essas e outras, sinto raiva da paciência, da ponderação e da razão que não se casa com a emoção. não admito que me peçam calma depois de 24 anos de voltas em círculos.

tenho pressa. e não é por medo da morte não. é por medo da vida. da vida que perde encanto quando a gente olha pra trás e vê que não fez nem décima parte do que se planejou ou sonhou ou fantasiou fazer.

eu quero mesmo é ver gente. sentir seus cheiros, de perfume, de cerveja, de pele, de cigarro, de noite. quero ficar numa corda bamba, tentado me equilibrar com algumas incontáveis doses de álcool nas veias. quero não ter hora pra voltar, perder as chaves em algum lugar e acordar com minhas sandálias nas mãos. quero nem saber que dia é e ouvir histórias absurdas da noite passada até não mais duvidar do tanto de bem que a embriaguez me faz. antes, quero uma embriaguez compartilhada, sentida, celebrada, nua, excitada, gozada, orgástica, e de novo, e de novo e de novo.

quero carregar na roupa as marcas do despudor e ver o sol nascer no meio da rua, no topo do prédio mais alto da cidade, ou no banco da praça onde vagabundamente deitei meu deleite de alma sedenta de corpos. eu prefiro a vadiagem da liberdade ao choro desolado do nome de moça, menina ou mulher que, atemporalmente, me foi tatuado. eu quero, no vento da noite, esparramar desejos, na pele colecionar beijos, nos dedos inquietos conduzir a rendição, nos pés bêbados perfazer os passos trôpegos do descontrole e do prazer.

quero da ressaca só a saudade. do espelho, o reflexo da libertinagem. da alma, a leveza. dos sorrisos, a multiplicação. da vida, o sabor de ser gente, de mente, de pele, de hormônio e carne, que se entrega e se enrijece e dança e se desgoverna.

das minhas querências sobra nem o medo da repressão. sobra é o desprezo pela censura e pela decepção da espera. quero mais não.é preciso peito pra encarar a solidão e ganhar a briga. tenho dois. além da vontade irresistível de ser do mundo, de recuperar do tempo o que meu corpo chama de meu.

eu quero tudo. eu quero muito. e eu quero agora.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Quem sou eu no jogo do bicho?


Prazer!
Sou Juliana, aquela que desceria uma caixa de cerveja se tivesse dinheiro e que quer sambar sim! Principalmente se for na cara do capitalismo, ao som de Chico Buarque e no ritmo da liberdade.

Drama é meu segundo nome; fundo do poço é o meu limite e vontade eu nunca estou pronta pra passar.

Status permanentes: ousando sair da cápsula; desenquadrando-me; desmuralizando-me e sendo redundante.

Sou tantas que mal consigo me distinguir. (Martha Medeiros)

Eu sou uma farsa.
Tragicomédia grega.
Um drama. Uma trama.
Ode aos desesperados.
Um canto abafado.
Um eco qualquer no vazio.
Alma marginal.

Muitas vezes, um cansaço psicológico.
Outras tantas, uma fadiga física
Além de um punhado de inquietações,
Questionamentos e lamentações.
Sou apenas um insistente sopro de vida.

esquisofrenicamente existente. tragicamente sensível. torpemente fugaz. bebadamente alegre. ininterruptamente criança. financeiramente falida. desastrosamente besta.
phd na arte de chorar. sei de pouco um tudo.

Um ponto; um segmento de reta - numericamente traduzido numa dízima periódica - entre as agonias e as alegrias de estar, sob a égide de “A Insustentável Leveza do Ser”, de Kundera.

Sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal. (C.Lispector)

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno e asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: - mais nada. (Cecília Meirelles)

A poesia me desbrava.
As coisas muito claras me noturnam.
Meu fado é de não entender quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
(Manoel de Barros)

A verdade é que
Eu sempre pensei que adoraria viver perto do mar
Viajar o mundo todo sozinho
E viver da forma mais simples
Eu não tenho idéia do que aconteceu com esse sonho
Porque não há mais nada aqui para me impedir
(Dido)

Essa moça aqui? “She’ll do crazy things on lonely occasions.” (Janis Joplin). Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive. ela dança a coreografia de seus sentimentos. (Caio F. de Abreu)

Mas, se a minha vida está para alugar
E eu não aprendo a comprá-la
Então, eu não mereço nada mais do que tenho
Porque nada do que eu tenho é verdadeiramente meu
(Dido)

É que "eu não sou as coisas (leia-se, instituições; institutos ou o instituído) e me revolto". Além disso, meu coração sempre me diz que a indignação é o princípio para a transformação.

E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.” (C. Lispector)

I’m just a love machine or a runaway in trouble.
Um animal sentimental, que só consegue o equilíbrio cortejando a insanidade.

Quero saber, entre todas aquelas que eu sou, quem é a chefe, quem manda dentro de mim. (Martha Medeiros)

I Told you, I was trouble. (Amy Winehouse)


Esse texto é o resultado da soma de várias tentativas de auto-definição ao longo de anos, recolhidas de redes sociais das quais fiz/faço parte. Umas vezes escrevi, outras tantas me encontrei nas frases de outros autores. Certo é que, na ânsia de me definir, as palavras se fizeram contraditórias e limitadas, como todo ser humano o é. 

Observação: cada parágrafo (ou seqüencia de versos seguidos) corresponde a um momento da vida que tentei me enquadrar em léxicos.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Carta aberta aos amigos.

Amigos;

Eu venho aqui abrir esse peito que anda meio conturbado com tanta reviravolta. Eu venho ser honesta, ser a Ju que ama ser assim por vocês alcunhada por que acredita que conquistou esse carinho tão claro nessa sílaba. Vim pedir um pouco mais de arrego, mais do que já peço todo dia, querendo forçar minha presença perto da de vocês. É que é um conforto de alma, sabem? Imaginem uma pessoa recém chegada em uma cidade, onde nunca pisara, e quando ouve aquela música da banda preferida passando na rádio do boteco da esquina sente um arrepio na alma. Pois é. Um conforto de alma, que nos últimos tempos só encontro na existência de vocês.

Por mim, a gente se abraçava no meio do parque mais bonito do planeta, posando pra fotos em frente ao córrego, naquela luz inebriante do pôr-do-sol. A foto pra levar pro resto da vida. Pra mostrar pros filhos e dizer: esses aqui são, cada um, pedaços de mim. Mamãe cresceu porque viveu os melhores anos aí, nesse retrato atemporal. Mas já que essa foto me parece no mínimo desafiadora, nesses tempos de adultice que não nos deixam ter meninices, vou abraçando cada um, permitindo que fique um pouco de mim também nas suas vidas.

Mas sabem o que é? É um mundo novo pra mim, que tava ali no canto, vendo-o girar. Não que eu não vivesse. Eu vivi. Do ponto de vista das minhas idealizações, tive as vidas mais bonitas que uma garota de 17 pra mulher (?) de 24 poderia ter. Eu não posso negar que sou fruto da minha geração. Essa dos sonhos cor de rosa, da agenda, caneta, parede do quarto e músicas cor de rosa. Mas sou também filha da minha mãe e proveniente dos Marreiros do Maranhão, onde muitos deles ainda nem têm água encanada e nem sabem o que é chão de cimento. Sou amiga de vocês, e conhecendo vocês como acho que cês se conhecem, isso diz muita coisa. Mas confesso: cês me abrem umas paisagens novas, com cheiros novos, com posturas e desejos novos...como eu fico no meio dessa coisa toda?

Eu tinha essa mania de grandes amores, e grandes entregas, e grandes histórias, e grandes superações...meu coração ficou maior com tantas experiências grandes que o peito nem soube mais abarcar. Ainda hoje tá em conflito, querendo imprensar a bomba de sangue e suas batidas fortes de emoção. Mas minhas velhas manias hoje são velhas. Quero viver muito em um curto espaço de tempo, talvez naquele que caiba uma respiração. E quero depois abrir meus braços pra sentir o vento e gritar até ecoar: o mundo é meu canto de existência, minha oficina de bem querer. As pessoas hoje são, mais do que antes, imensos reservatórios de saber, de ser e de amor, com suas cores, roupas, colares, mochilas, risadas, lágrimas, falas...elas são meu fim. Cês sabem do que eu tô falando, não sabem?

Mas isso do meu coração se engrandecer me deixou vazios grandes também. Cada espaço, do tamanho desse Piauí vibrante! Preciso ressaltar que esses meus grandes amores eram também grandes amigos, dos melhores que já tive. A levar em consideração a porção gigantesca que vocês, amigos, ocupam no meu miocárdio, já se pode imaginar o que eles representavam na minha vidinha de expectadora de antes. Eles se foram, levando consigo a materialidade considerável que me preenchia. A idéia era que a liberdade se apossasse desses vazios.

Liberdade. É disso que eu tô tentando falar o tempo todo. Tanta coisa cabe nessa palavra, inclusive as escolhas. Veio tudo assim, de supetão, junto com as coisas novas que cês me mostraram. Só se esqueceram de me avisar (não vocês, mas o mundo) que liberdade é construção, processo necessariamente atravessado pelas dúvidas, pelas perdas, pela dor. Sabem, eu ando chorando calada, ando reprimindo meus olhos, pra eles não me obrigarem a ir ao banheiro no meio da noite, atrás de lencinhos ou de uma boa jorrada de água no rosto. Eu sei que cês me amam sorrindo, falando besteira, sendo forte. Mas eu acho que cês sabem que eu não sou um carvalho, indubitavelmente resistente. Preciso que as células que correspondem a esses pedacinhos que são vocês na minha alma reajam, segurem o tranco do meu lado.

Eu seria egoísta se fizesse de conta que vocês não têm fraquezas e insalubridades (aliás, porque tanto sal nesses caminhos nossos, se a gente é mais doce que rapadura?). É por isso que a minha roupa preferida pra ir ao encontro de vocês é meu melhor sorriso (desculpem-me se ele nem é tão bonito assim, mas é o melhor que tenho.). Mas eu sou a Ju, aquela que foi pintada no mundo como frágil. Eu fui pintada, mas eu nem sei até que ponto essas tintas não têm meus pigmentos naturais e o preto dos meus cabelos.

Eu tenho papai, que além de me dar todas as garantias que uma filha precisa ter nessa vida, também sabe me enxergar como a caçula e de vez em quando mexe no meu cabelo e me fala com uma voz de criança. Tenho meu irmão, que me trata como a fiel escudeira e de vez em quando me faz uns agrados típicos de pai mão aberta, todo permissivo. Tenho vocês, que são todo o resto, que compreende serem minhas mães, irmãos, filhos. A vida se movimenta por vocês e com vocês. Nada nas quatro paredes desse quarto faz qualquer sentido, se não partir e chegar até vocês. Desculpem a invasão, desculpem querer vê-los e ouvi-los tanto! Mas é que vocês são esse território que eu desbravei/desbravo; meu espaço de conforto, aquele do encontro das almas, no momento do abraço ou das cantorias das vozes que, desafinadamente, cantam a mesma música, ou dos corpos que bebem da mesma cerveja ou das bocas que riem das mesmas piadas, internas ou não.

Não me falta é gratidão, por cada história de suas vidas compartilhadas (eu me sinto grande, de confiança, de energia positiva), pois elas me aproximam de vocês, de seus íntimos; me fazem torcer e vivê-las como se fossem minhas; me fazem viva. Sustentem isso, eu imploro!

Vocês sabem quem são, o que são, como são, pra quê nomes, não é mesmo? Identifiquem-se pelos momentos que dividimos uns com os outros e nos somamos. Obrigada pelas leituras, vídeos, links, piadas, escadas, Vaninhas, Vinis e Caneleiros, Tio Espeto e Luís Filhos, CDs, roupas, perfumes, lágrimas, beijos, apertos, bate-cabelos, lutas, caminhadas, chocolates, noites, quartos, mãos, ouvidos, filmes, blogs, shows, Mercearias, viagens, dinheiro, lanches, filés com fritas ou somente fritas, sonhos, palavras, esforços, livros, infâncias, adolescências, reuniões, pautas, ídolos, diários, dias, produções, vitórias, derrotas, vidas compartilhad@s. Mas peço, não se acanhem de compartilhá-l@s mais!

Sou múltipla porque assim vocês me fizeram. Não há nada de que me orgulhe mais do que ser esses muitos, porque só assim posso comungar do sabor da liberdade que vocês tanto contribuem pra que eu alcance e lute por. Amo vocês e seus abraços e só peço a Deus que nunca me prive disso. Amém!