segunda-feira, 10 de junho de 2013

Sobre estar só.

Aprendi a ser só.

Aprendi porque me compreendia em um mundo onde não conseguia me comunicar. Aprendi porque não conseguia conversar racionalmente (e o mundo cobra racionalidade) ou porque nunca soube dizer com a boca o que digo com/no papel. Aprendi porque não me aceitava e o mais lógico, aparentemente, era que o mundo também não me aceitasse.

Com o tempo, aprendi (menos dolorosamente) a estar só. Era bom descobrir que música me desinibia; conversar sozinha, nos meus próprios termos; ser boa e gentil comigo, nas coisas que outros/as não faziam por mim; realizar pequenos caprichos; rir só, chorar só; misturar riso e choro sem parecer patética; estar em zona livre de medos e julgamentos. Era bom testar minhas próprias teorias, construir o teatro de uma atriz só...

Mas estando só eu era só. E tudo parecia ficção. Era tudo meu, mas o mundo não. Ele, essa coisa imensa lá fora, não tinha nada que eu pudesse dizer: isto é onde eu pertenço. Era comum olhar pras minhas mãos e percebê-las vazias. Foi ficando visível que eu estava vazia de mim.  

Descobri que, por mais concretas que fossem as pequenas coisas de estar só, ser só é muito maior e mais profundo. Minhas mãos precisavam de outras. Precisavam de mundo.  

E que crueldade desse mundo! Somos feitos sós, mas não para sermos sós. Contraditoriamente, embora feito de solidões que se juntam e se dividem, o mundo é quem diz que o limite próprio de ser é a solidão. O mundo também aprendeu a ser só.

Aprendemos a resistir e desaprendemos de ser sós. Mesmo sendo só, o mundo chama, porque sabe que não pode sê-lo. E então, nossas solidões vão se somando a outras. Até aquele momento que se confundem ou não se acham. É quando nossa solidão sussurra: ‘preciso estar só’.

Estar só pra me ouvir melhor,  pra fazer um afago na alma, um melhoramento aqui, um rearranjo acolá. Estar só pra me (re)conhecer, pra me concentrar, pra me retomar e pra caminhar. Sim, pra caminhar, pois há caminhos que só se fazem quando estamos sós.

Estou só, embora não seja. Estou indo ao encontro dos desejos, dos mais supérfluos e dispensáveis aos mais profundos. Mas sei que tenho hora de voltar, porque sendo só aprendi que não quero mais ser e para tanto, preciso estar bem com minha solidão. Preciso estar só.


Estou só, mas carregada de mundo.

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