segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Metalinguagem




Eu me entendo escrevendo
E vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco
Ele me mostra o que eu não sei
E me faz ver o que não tem palavras
Por mais que eu tente são só palavras
Por mais que eu me mate são só palavras


(Mariana Aydar)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Ponto de partida.

Estou crua. Estou nua. De fato, despida de muito do que já vesti antes. Mas continuo achando que é preciso se encontrar nesse processo de viver. E em resumo: não sou uma pessoa peculiar. Não tenho grandes singularidades. Só sou mesmo o que sinto.

E por saber disso é que, finalmente, eu consigo sentar pra dizer pro meu espelho-papel o que sou.  Sei que isso explica porque choro enquanto escrevo: estou olhando pra mim e geralmente os (des)encontros com o eu tendem a ser os mais difíceis. Mas sou só eu olhando pra o que sobrou. Nem choro porque sobrou pouco ou porque sobraram coisas feias, mas porque coisas sobraram, apesar de.

Eu fui até onde eu nunca, nem no auge da minha lucidez de alguns meses atrás, pensei ir. Na verdade, eu rompi limites encravados na minha pele pela vida toda. Sei, bem dentro d’alma, que ousei e fui muito além de mim. Fui buscar a parte que acredito me complementar fora de tudo o que me acercava com suas placas de ‘NÃO ULTRAPASSE’. Eu ultrapassei e voltei em branco.

Tão absurdo! Mas tão verdadeiro. Eu aceitei os mais importantes desafios que me apresentei dentro das minhas 25 revoluções solares e boa parte do que consegui foi caber numa moldura vazia. No images, no pictures, no body, no nada. Muito nada. Apesar das dores físicas da volta, senti-me catatônica, 80% morta, embora feliz por estar viva.  Nunca foi tão bom voltar pra casa: meu quarto, minhas coisas, o cheiro do meu armário... Entretanto, tudo me deixou anestesiada. Viva, sorridente, mas anestesiada.

Faxinei a vida. Mas não a alma. Doei livros, calçados, joguei o lixo fora, expulsei a poeira que já não se restringia aos cantos. A música que me acompanhava nunca fora tão ‘ambiente’, tocando só pra quebrar o silêncio. Sempre cantarolo com boca e coração enquanto faxino. Dessa vez não fui capaz. Enquanto o mundo fazia barulho no carnaval, eu brincava com um silêncio ensurdecedor. Ao fim de toda a limpeza, ficou só a certeza de não poder, nem por um segundo, olhar pra trás, lá onde meu coração ferido e desenganado ficou.

Os sonhos ainda são minhas cláusulas pétreas, condições da minha existência nesse plano. Eu nem consigo mexer neles, de tão guardados. Intactos. Tão meus... Tanto que sei que podem me esperar, sendo pacientes com meus passos lentos. Mas, por ora, o que há de mais concreto e imediato é o todo dia, o dia todo.


O domingo me permitiu me olhar. O efeito anestésico da minha casa foi superado pelo trivial, aquilo que tenho desde criança: domingo que era antes entre quatro e agora é entre três, mas muito cheio de nós, como sempre foi. Mal posso descrever sem chorar a paz que senti em me ver dentro do carro (que papai insiste em dizer que é nosso), ouvindo American Pie na voz da Madonna (a única cantante que agrada, ao mesmo tempo e por motivos diferentes, aos três habitantes dessa casa). Cantávamos juntos. E eu pude me dar conta do quanto posso ser feliz em alguns minutos. Não há mais dormência. Meu corpo transborda de conforto e paz.

Estou em casa. Estou no meu lugar. E como é bom ter pra onde voltar e onde poder recomeçar.